Quando jovens e apaixonados é comum perdermos os limites, experimentarmos a auto anulação, aceitarmos manipulação e até abuso.
Muitas vezes nem a auto percepção acusa tais comportamentos. Aí o Mestre Tempo chega e não tarda a trazer as lições, pois as dores e decepções já causaram devastação.
Borda!!! É preciso reconstruir as bordas, algumas arrebentadas por nós mesmos e outras arrombadas pelos parceiros(as). Algumas vezes catando cavaco, outras com ajuda profissional, começamos a exercitar novas reações e limites.
Quando efetivamos a mudança de postura revelamos a nós mesmos e ao mundo uma nova pessoa.
Esse novo ser chega causando estranheza, surpreendendo a todos que conviveram com nossas velhas posturas, aquelas que não cabem mais, e assim a vida começa a tomar uma nova forma.
Esse é o início do processo de amadurecimento, quando a clareza do que somos e desejamos, rege as escolhas que fazemos, que antes eram geridas pelas emoções e necessidade de agradar para ter valor.
As experiências e sensações provocadas por sermos o que somos vão dando o tom da canção existencial. Prazeres, frustrações, conquistas e perdas vão girando a Roda dos (des)afetos, e a balança entre entrega e defesa emocional vai oscilando.
Mestre Tempo retoma suas aulas e se dedica a ensinar ao ego, que é o elemento estruturante da personalidade, que a vida tem fases e em cada uma delas nossa nutrição se altera, da mesma forma que os bebês não tem seus aparelhos digestórios maduros para comerem a comida dos adultos.
Numa primeira fase da vida nos dedicamos a construir a nossa identidade, buscamos o pertencimento na família, no corpo, nos grupos sociais que participamos e, o desejo de” fazer parte” junto com o medo de não sermos aceitos, valorizados e queridos, abrem espaço para o deslocamento de quem somos para o ideal que construímos de nós mesmos.
Com o tempo esses dois seres, o real e o idealizado, já estão tão misturados que o inconsciente não encontra brecha para se comunicar e aí começa a sinalizar através de sintomas, nas relações e no corpo, que algo precisa se equilibrar emocionalmente.
Tomamos um sacode e vem a certeza de que como está não é possível continuar. É quando a sabedoria interna nos convida à mudança de postura, à construção de bordas e escolhas saudáveis, o tal processo de amadurecimento. Não costuma ser fácil, mas é muito libertador!
Aceitamos que o outro é o espelho para reconhecermos o que é igual e o que é diferente, isso é autoconhecimento. Vamos aprendendo que cada encontro e respectiva despedida são o caminho para despertar o amor e também para mostrar o que precisa ser removido para que a vida tenha sentido.
Aceitando os ciclos, nos sentimos fortalecidos para dizer o que queremos e para negar o que não nos vai bem. De alguma forma sabemos que não existimos para atender às expectativas de ninguém e vice-versa, e que os encontros são modelados pela necessidade que as partes têm de auto desenvolvimento.
O Mestre Tempo continua atuando e ensinando que amar é nutridor, sentimos mais generosidade, mais gratidão, enxergamos mais beleza, sorrimos mais, e isso aumenta até a imunidade, só faz bem.
É também verdade que o luto das separações causa dor, mas é um processo que tem algumas etapas e tudo se renova depois, porque você se separou de alguém, mas não se ausentou de você mesmo, como nas relações abusivas.
A vida é naturalmente impermanente, imperfeita e desafiadora, portanto, desenvolver a capacidade de passar pelos desafios da forma mais equilibrada possível é a chave para sermos mais felizes.
Contudo, essa naturalidade só é alcançada quando aceitamos que tudo de melhor e de pior no universo nos compõe, que não há nada fora que não esteja dentro, portanto todo conteúdo que apontarmos em alguém ou recusarmos em nós, sempre serão também nossos e pedirão para serem vistos até que os aceitemos.
Então, bora fazer as pazes com as sombras para que elas não se projetem e aumentem de tamanho.
Alessandra Melo